Falar sobre luto por suicídio é importante para evitar novos casos

por: Paula Moura
fonte:aqui
O luto do suicídio geralmente demora mais para passar e é mais intenso do que o luto por outros tipos de morte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para cada caso de suicídio, cinco a dez pessoas próximas são extremamente afetadas. Familiares e amigos de pessoas que se suicidaram são chamados de "sobreviventes" do suicídio e o risco de essas pessoas próximas também repetirem o ato suicida é maior.
Neury Botega, pesquisador do tema na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que geralmente há uma combinação de sentimentos que confundem e acabam calando as pessoas e dificultando o processo de luto: pena, tristeza, raiva, vergonha, humilhação, culpa. "A família se cala, a sociedade se cala."
Não falar faz com que pareça que a pessoa assumiu alguma culpa pelo suicídio, segundo Maria Helena Pereira Franco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo especializada em luto.
Para Maria Julia Kovács, professora do Laboratório de Estudos da Morte da USP, essa culpa tem várias facetas: acreditar-se culpado pelo ato suicida do outro, por sentir que provocou ou que não cuidou, ou que não percebeu os principais sinais. "É muito importante no trabalho para abrir a possibilidade de legitimar os sentimentos, cuidar da pessoa e ajuda-la a lidar com o estigma social."
Os especialistas são unânimes sobre a necessidade de falar sobre o assunto. No país, existem alguns grupos que se reúnem para trocar experiências e para que os sobreviventes se apoiem mutuamente (veja lista abaixo). A psicóloga Karen Scavacini, que coordena um desses grupos no Instituto Vita Alere e fez mestrado em pósvenção do suicídio na Suécia, avalia que quanto maior for o segredo e o tabu dentro da família mais difícil de lidar. "Muitas vezes a família sofre por gerações", diz.

Conversa vale também para crianças

Karen também defende a conversa com crianças. A autora do livro "E agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio" afirma que a criança precisa saber o quanto antes sobre o suicídio de alguém próximo, mas com linguagem e detalhes apropriados para ela. "Se não ela vai ter que lidar com o luto duas vezes, uma da morte e uma de que foi por suicídio. Além disso, manter segredo abala a confiança da criança."
Geralmente, a criança faz perguntas, e é preciso não dar muitos detalhes de como o suicídio aconteceu, mas também não pode fugir da realidade e falar que a pessoa "dormiu" ou "foi viajar", pois isso faria a criança ficar com medo toda vez que vai dormir ou alguém viaja. "É importante usar a palavra morte e explicar o que é morte para a criança, pois geralmente ela não sabe. Explicar que a pessoa não sente mais dor, que não vai voltar e até mesmo incluir sua visão religiosa sobre o assunto", diz. Também vale afastar a culpa que a criança, assim como qualquer outra pessoa, pode sentir.


De acordo com Karen, uma boa saída é fazer uma comparação com uma doença física. Por exemplo, explicar que, assim como a gripe que pode piorar, se tornar uma pneumonia e causar a morte, o mesmo pode acontecer com a depressão que, quando fica grave, a pessoa faz alguma coisa para morrer. "Podemos explicar que é um sofrimento, que a depressão não deixava a pessoas ver o amor e as possibilidades que ela tinha nem que outras pessoas poderiam ajudá-la." 
Parte de livro sobre como falar de suicídio com crianças
A psicóloga listou impactos do luto por suicídio sobre sobreviventes. Veja na lista abaixo:
  • Físicos
Insônia, agitação, fadiga, tontura, queda do apetite sexual
  • Cognitivos
Dificuldade de concentração, angústia, pensamento rígido (não para de pensar no assunto)
  • Sociais
Isolamento, mudança na dinâmica familiar ( datas de festas e aniversários passam a ser muito difíceis, ao mesmo tempo em que família quer ficar sozinha, pessoas sentem-se excluídas do convívio social), aumento do número de pedidos de licença médica, dificuldades financeiras, prejuízo escolar, aumento do uso de álcool e drogas
  • Psicológicos
Aumento dos transtornos de ansiedade, sintomas de estresse pós-traumático (imagens e sons voltam à memória) e depressão (diferente da tristeza do luto), aumento da automutilação, do sentimento de culpa e responsabilidade pelo que aconteceu, raiva, medo de perder outras pessoas próximas

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