Os vivos e os mortos

"Morrer não é ser deletado: aquele que aparentemente nos deixou está preservado no casulo de seu novo mistério, sem mais risco, doença ou tormentos" Por mais que as notícias falem de crianças assassinadas com um tiro na cara e de mulheres grávidas estupradas; por mais que ao nosso lado, de todas as formas, se banalize a morte, sempre que ela nos atinge sentimos um grande abalo e fundo estranhamento. Ela nos ronda, e mesmo assim não aceitamos a Senhora Morte, cujo aceno vai nos levar também, inevitável. Ninguém sabe quando virá essa surpresa que não quereríamos ter. Chegará, súbita ou sorrateira, dedo dobrado que sinaliza: "Venha comigo, chega de brincar de vida, agora a coisa é real". Meu primeiro encontro com ela foi a pomba morta de frio que, menininha ainda, encontrei no pátio de casa: pensei que ela estivesse dormindo e a aconcheguei debaixo do casaco. Quando me fizeram ver que estava morta, chorei inconformada. Muita insônia também sofri naquele temp...