A dor do luto



O luto como já dito, carrega em si a dor, viver é estar em constante luto e elaboração do mesmo. Essa elaboração é a ponte que nos leva da dor ao prazer. Luto é aprendizagem, é experiência. O luto nos torna humanos, que sabemos, somos mortais. portanto, a morte é nossa fiel amiga e não podemos fugir dessa fidelidade. Ela pode ser ludibriada, se postergada, atrasada, mas nunca deixará de vir ao nosso encontro, como disse ela é fiel e cumpre o que promete, cedo ou tarde. Ela nunca deixa de estar presente, para nos mostrar como num espelho, nosso corpo a todo tempo desnudado pelo real. O real é a própria morte, são as perdas, os fracassos, as decepções, as frustrações, as amputações do desejo. Entretanto, o real nos pega mesmo a contra gosto, e por vezes nos mostra exatamente o contrário, que tudo tem um fim, que tudo isso não passa de um conto de fadas. O castelo de cartas cai por terra. Dor, sofrimento, luto.

A elaboração do luto é a aceitação da realidade tal como ela é, nua e crua. É aprender a viver com a ausência, com uma perda, buscando algo novo que nos vá preencher. Nunca é claro, o mesmo preenchimento, apenas um novo. O luto é da morte, não da vida. O que morre são partes de nós, o todo continua vivo. Assim como, a cada dia milhares de células morrem em nosso corpo, porém, milhares nascem para manter o todo nas melhores condições possíveis, e pelo maior tempo possível.


Gratidão na morte

Diante da morte do outro nos entristecemos, sofremos e choramos, não pelo morto, mas por nós mesmos, pela falta que ele nos fará. Se pensarmos que a morte é o nada, é o vazio absoluto, pelo o que choramos?  Se pensarmos no vazio que a morte trouxe, pelo o que choramos? Para a primeira questão talvez não haja solução, pelo fato de não termos acesso. Para a segunda, a simples aceitação de que um vazio foi deixado, porque o outro ocupava sim um espaço dentro de nós, mas apesar disso, continuamos vivos. E o que nos conforta, é que o outro teve seu instante na eternidade e fez a diferença enquanto existia. Mas que o nosso instante ainda não acabou, e clama por ser bem aproveitado.
É sábio aquele que elicia lembranças felizes do que foi. É sábio e ao mesmo tempo feliz, aquele que agradece o que, ou quem o influenciou para estar onde está. Tudo o que não é, um dia pode ter sido, e por isso, fez parte de nossa vida. Todas as nossas perdas, mortes, fracassos, frustrações e decepções, fazem parte deste hall a ser agradecido.
Tudo é uma questão de escolha: o sofrimento da perda do que um dia foi, o pesar por aquilo que nunca aconteceu, ou, a lembrança feliz do que foi, do amor que por um tempo preencheu de sentido nosso viver. À que se ter gratidão pelo passado. Nem a morte, nem qualquer outra possibilidade que potencialmente pode nos enlutar, é capaz de anular o que já aconteceu, o que vivemos. A gratidão nos faz regozijarmos com doces lembranças, nos liberta do que está por vir e ilumina o que está sendo. Claro está, que não queremos ressuscitar o passado, nem tão pouco anular o sofrimento do luto. A gratidão é o remédio que pode cicatrizar as feridas abertas pela vida, pelas perdas da vida.
A elaboração do luto não é a extinção do sofrimento, nem tão pouco a gratidão se prestaria a isto. “Trata-se de passar da dor atroz da perda, à doçura da lembrança”, dizia Sponville. Ou seja, a própria gratidão, “que bom que você existiu em minha vida”, “que bom eu ter ganhado esse presente”, “que bom eu ter te amado e tu me amado”. Elaborar o luto: aceitar o real e continuar, viver apesar de tudo. Gratidão: lembranças doces, alegrias e amor.

Referências Bibliográficas

FRANKL, V. E. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo, Editora Quadrante, 1989.
SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. São Paulo. Nova Alexandria, 1993.
SPONVILLE, A. C. Bom dia, angústia! São Paulo, Martins Fontes, 1997.
__________, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, São Paulo, Martins Fontes, 2000.
 Artigo publicado na Revista Psicologia Brasil
Nº 15 - Novembro de 2004.
 *Odair José Comin, Psicólogo, Hipnoterapeuta e Escritor 


Para ler na íntegra essa matéria acesse o link

Comentários

  1. Olá Zelinda querida,
    Maravilhoso post, minha amiga! Belíssimo artigo, com certeza uma importante reflexão e grande aprendizado para todos nós. Sempre é muito bom ler um texto como esse, sábio e verdadeiro, que edifica a alma... palavras lindas que nos fortalecem, nos dão coragem para prosseguir a caminhada e nunca desistir da luta!
    Realmente, aceitar a realidade e continuar, viver apesar de tudo, não é fácil, é uma questão de escolha... Tudo está em nossas mãos!
    Obrigada por mais uma preciosa partilha!
    Muita LUZ!!!

    Beijos no coração.

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    Respostas
    1. Obrigada amiga..
      Pelo carinho que tem pelas postagens do nosso Blog ASDl, seu comentário sempre nos fortalece para a nossa caminhada...
      Bjs e muita força amigaaaaaaaaaaaaaa.

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