Luto em Situação de Crises, Desastres e Tragédias
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Luis Gonçalves/AgenciaPreview |
Por Rodrigo Luz.
Mortes por violência ou que envolvem
uma grande quantidade de vítimas (Dillenberger, 1992; Horowitz, 1976) têm sido
objeto de muitas pesquisas. Todos mostram um grande risco para a saúde mental,
como no caso da pesquisa de Dillenberger (1992, apud. Parkes, 1998), que
utilizou uma série de métodos padronizados para acompanhar o luto de viúvas que
perderam seus maridos em condições violentas, encontrando resultados
elevadíssimos com respeito aos problemas psicológicos. Em casos que são
envolvidas quantidades imensas de pessoas, o luto tende a ser complicado por
fortes sentimentos de raiva e culpa. Parkes (1998) lembra que a decepção com o
poder das autoridades que devem manter a segurança e a ordem pode gerar uma série
de temores. Algumas mortes violentas, "mas não todas, são resultantes da
ação humana, causando reações de raiva e culpa muito compreensíveis"
(Parkes, 1998). No entanto, há fatores de risco que ameaçam o bom
encaminhamento do luto: a combinação de morte repentina, inesperada, horrível e
precoce, com toda a raiva e suspeita que a seguem, mais a lentidão do processo
legal, que geralmente leva a uma sentença banal em comparação com a magnitude
da perda, podem levar a família ao estresse e deixar de apoiar os seus membros,
gerando problemas psicológicos que podem ser persistentes ou duradouros. Tais
consequências colocam as pessoas em um ciclo vicioso que perpetua os problemas.
Raphael (1986) dedicou-se a estudar os desastres, na perspectiva de que "perdas
múltiplas e simultâneas são mais traumáticas do que as perdas isoladas".
Além dos efeitos das perdas múltiplas, os desastres podem minar as redes de
apoio social que comumente acionaríamos, e mesmo os que podem oferecer apoio
encontram-se em risco para a sua saúde mental. Aqueles que testemunharam as
mortes, de uma forma ou de outra, têm mais risco de desenvolver transtornos que
podem complicar o luto. Há uma série de determinantes para o processo e para o
resultado do luto, que podem ser estudadas a fundo em Parkes (1998 e 2009). Na
tragédia de Santa Catarina, na qual morreram muitos jovens, quem está à frente
da organização desse grupo de profissionais de saúde voluntários? O que podemos
e devemos pensar sobre as necessidades agora? É necessário que existem pessoas
experimentadas por lá. Que mantenham-se inteiras, atentas e sejam comandadas
por alguém que saiba o que está fazendo... O percurso demanda uma formação
capacitada para essa abordagem... Lidar com uma tragédia de grandes proporções
demanda uma abordagem muito diferente da que fazemos com o luto normal, uma vez
que o estresse, a sensação de destruição, de vida sem valor são muito mais
intensas, e o mundo presumido pode ter sido amplamente quebrado (Parkes, 2009).
Concepções básicas entram em jogo: o mundo pode parecer um local inseguro para
ser vivido. E a longo prazo??? As pessoas continuarão precisando de apoio
psicológico, mesmo depois que a mídia deixar de focalizar a questão com a mesma
ênfase. Consideramos muito importante o trabalho da imprensa, na busca de
divulgar informações confirmadas, de modo a não alimentar rumores que tanto mal
causam às famílias enlutadas e desorganizam os esforços de reconstrução, por
parte do poder público. Um grande problema que percebemos, na atividade da
imprensa, é o escancaramento de imagens fortes, repetidas à exaustão, sem
considerar os efeitos que tais imagens produzem nas subjetividades... Através
das transmissões dos programas televisivos e dos diversos meios de comunicação
instantânea, a morte tornou-se companheira diária de crianças, adultos e
idosos, caracterizando-se como invasora e sem limites. A morte interdita e a
morte escancarada coexistem “porque o escancaramento da morte não permite
espaço para a sua elaboração, devido à rapidez da sua propagação, somando-se a
todas as distorções percebidas nos meios de comunicação” (KOVÁCS, 2009). Kovács
(2003) exemplifica a morte escancarada em duas situações: a morte violenta das
ruas, os acidentes e os homicídios; a morte veiculada nos órgãos de
comunicação, mais especificamente pela TV . A morte violenta nas ruas está
aumentando significativamente, com altos índices de homicídios e de acidentes
que envolvem, sobremaneira, os jovens. É escancarada, sim, “porque ocorre na
frente de qualquer pessoa, sem máscaras ou anteparos” (KOVÁCS, 2003). Todos a
veem, inclusive as crianças. Geralmente, é muito violenta, como as chacinas e
os latrocínios. Essa qualidade de ser escancarada não permite proteção, não há
espaço para previsibilidade, e torna a todos vulneráveis. Nesta maneira de
estar com a morte, “não há humanidade, mas apenas sensação de vulnerabilidade e
de vida sem valor, sem sentido” (KOVÁCS, 2003). Entre as modalidades de mortes
escancaradas, encontram-se as tragédias naturais, as guerras, os sequestros
seguidos de homicídio, entre outras. A morte veiculada nos órgãos de
comunicação está nos noticiários, nos programas de auditório, nas novelas, nos
filmes e nos desenhos animados. É a morte que invade os lares e as instituições
a qualquer hora, sendo assistida por todos. O que a torna escancarada são as
cenas chocantes, mostradas e repetidas à exaustão, sem contar o texto que as
acompanha, principalmente na mesma hora que ocorre o acidente ou desastre –
texto, na maioria das vezes, que “não oferece espaço para reflexão por ser
excessivamente superficial” (KOVÁCS, 2003). E o que é mais grave: após a
enxurrada emocional “segue-se uma notícia sobre amenidades, como os comentários
futebolísticos ou culinários” (ibidem). Neste caso como em muitos, a morte
escancarada convive com a morte interdita: ao mesmo tempo em que a morte entra
em nossos lares, mesmo sem ter sido convidada, ninguém fala sobre ela, dando
preferência a assuntos menos intensos, como o futebol. Até agora, os
comentários, na Televisão, demoraram-se nas questões organizacionais e na busca
de responsáveis pelas mortes... Os riscos para o acidente foram amplamente
contabilizados e muitas possibilidades para o que tenha ocorrido por
levantadas. Penso que o foco do problema foi desviado e, agora, outras coisas precisam
ser debatidas. Coisas mais essenciais e mais importantes. Afinal, é a
solidariedade que deve nos mover. É através dela que nos colocamos em um estado
de prontidão para ajudar o outro. Mas, agir com responsabilidade é ética, nesse
momento, é fundamental... O que inclui uma abordagem baseada em evidências, com
uma formação competente e adequada.
Olá minha amiga,
ResponderExcluirEstamos todos consternados com essa tragédia que ocorreu aqui no meu estado. Estamos todos de luto!
Minha solidariedade à todas as famílias neste momento de profunda tristeza, em especial aos pais e mães que hoje choram a perda de seus filhos. Há muito sofrimento, posso avaliar, pois vivencio isso, sinto essa mesma dor na alma, no coração. Nós mães, passamos longas noites acordadas esperando nossos filhos que saíram para uma festa e, um dia, por causa da irresponsabilidade alheia, não voltam mais. Foi exatamente o que aconteceu no acidente que ceifou a vida da minha amada Thais.
Deus console o coração de todos!
Vamos nos unir em preces pelos que partiram antes de nós.
Que sigam em paz!!!
Obrigada pela mensagem linda que vc deixou em blog!
Beijos, minha querida.
Zelinda, voltei para completar meu comentário, antes vou retificar...
ResponderExcluirObrigada pela mensagem linda que vc deixou em meu blog!
Quero dizer que minha filha também voltava de uma festa, quando ocorreu o terrível acidente que a levou para sempre, às 3:00hs de uma manhã de domingo.
Abração.
Oi Ilca...
ExcluirObrigada pelo carinho dos teus comentários.
Vc. mais do que ninguém conhece essa dor, o que se pode fazer é dobrar os nossos joelhos e rezar por essas familias.
Bjs amiga...