Viver depois do outro
É possível e desejável. Por muito que, quando se perde alguém, se perca também a vontade de viver. A viuvez é um corte dramático numa vida até então partilhada. Mas sobreviver e continuar em frente é preciso. Para tal há que fazer o luto e aprender a viver depois do outro. Guardando a memória e o afeto.
COMEÇAR DE NOVO
Quase todos nós já perdemos alguém. Alguém que lembramos no dia que o calendário reserva no mês de Novembro a lembrar os finados. Um dia de uma saudade muito particular para quem perdeu o/a companheiro/a de toda uma vida. Uma oportunidade para abordar aqui a importância de se sobreviver a essa morte, vivendo todas as fases do luto para, finalmente, começar de novo.
Em Portugal, a viuvez é um estado maioritariamente feminino. Há sete viúvas por cada três viúvos. Assim o indicam as mais recentes estatísticas do INE sobre mortalidade, relativas a 2002, ano em que por cada 100 casamentos dissolvidos por morte sobreviveram 71 viúvas contra 29 viúvos.
Sobreviver à morte de um ente querido, em particular de alguém com quem se partilhou toda uma vida, é naturalmente um processo complexo, doloroso e prolongado. Tão complexo e doloroso que acontece tantas vezes , se acredita mesmo não conseguir resistir à perda, em que o cônjuge sobrevivente pode até sentir que não faz sentido viver sem o companheiro, em que se sente perigosamente tentado a desistir.
É assim o luto. Uma etapa natural na vida de um ser humano, que se distingue dos demais por criar ligações com as pessoas e as coisas, laços psicológicos ou espirituais que reforçamos com a nossa afetividade. Ora, quando ocorre a morte de alguém, dá-se uma ruptura nessa ligação, abre-se uma ferida que consome a energia investida nessa pessoa; demora mais ou menos tempo a cicatrizar. Mas acaba por cicatrizar. Mesmo que continue a doer levemente...
Não é uma doença, mas, se não forem ultrapassadas todas as fases, o luto pode causar doença. Não é por acaso que se diz que é preciso fazer o luto. Ou seja que cada pessoa precisa de passar através da sua dor, para conseguir retomar a sua vida normal. Porém, a sociedade atual não se convive bem com o luto. Insiste em impor ditâmes, invadindo a privacidade de quem sofre a perda de um ente querido. Um exemplo basta: o vestir de negro pela morte de um familiar; de um cônjuge, por exemplo, é olhado de lado, como um gesto sem significado. E todavia pode ser a única forma de exprimir o luto, numa comunidade onde as lágrimas não são muito bem vistas.
Além do mais, o luto não é apenas um fenomeno individual. Ele é também coletivo. Porque, afinal, também a comunidade perdeu um dos seus membros: a morte toca a todos, faz reviver em cada um as suas próprias perdas. A solidariedade social torna-se então fundamental para evitar que o desgosto abra caminho à solidão.
Já aqui dissemos: o luto faz parte da vida. É mesmo um tempo obrigatório entre duas fases da vida: a que se tinha antes da morte do ente querido e a que virá depois. Mas esta segunda fase só acontecerá depois de o termos deixado partir definitivamente. Ou seja, se fizermos o luto.
Artigo da revista Farmácia Saúde do número 86 - Novembro 2003
Segundo o escritor Robert Kastenbaum, o idoso experimenta muitas perdas em maior numero variedade e rapidez do que qualquer outro grupo etário.
ResponderExcluirAssim sendo ele acaba literalmente afogado em perdas não encontrando tempo suficiente para elaborar e superar totalmente cada luto que vivencia.
Precisamos estar mais atentos dando os nossos ouvidos nossos ombros e o amor para que se sintam amados e protegidos
Eles não precisam de quase nada material, só o nosso carinho e atenção é o suficiente
para alegrar aqueles corações que fizeram tantas famílias felizes.
Com carinho Zelinda.