Lidando com os filhos que ficaram




Não é incomum os pais atribuírem qualidades santificadas ao filho morto, como "o favorito", "melhor", "mais sensível", ou "especial". Isto pode intensificar as experiências de luto dos pais como dos irmãos. Podem acontecer as comparações entre os filhos vivos e o filho idealizado que morreu. 


É bom lembrar que esta criança também está sofrendo pois perdeu um irmão, e porque vê seus pais sofreram de forma tão intensa como se ele não fosse capaz de amenizar dor nenhuma. Isto pode trazer sérias complicações para o desenvolvimento psicológico deste irmão. 

Por outro lado os pais vivem sentimentos ambivalentes em relação aos filhos que "sobreviveram" pois sentem medo de investir afetivamente nestes, ou por outro lado, passam a superproteger, com medo de perder estes também. Isto muitas vezes tem um caráter de castigo por terem sobrevivido no lugar do irmão morto.


Gabriela Casellato



Pais em luto que, numa ânsia de busca, relembram incessantemente tudo o que viveram com os seus filhos falecidos estejam atentos à vida quotidiana e ao futuro dos outros filhos falecidos, ao vosso lado também sofrem. Eles deprimem-se por verem tanta tristeza à sua volta.

Os irmãos são uma parte muito importante dos que partiram porque partilharam imensas coisas que os próprios pais desconhecem. Viveram, por vezes, um mundo muito especial juntos e, por isso, a imagem desses irmãos permanece no seu interior para sempre.

Os filhos vivos têm de ser salvos do seu desespero e somos nós, pais em luto, que temos de superar a nossa mágoa e tentar compreender também a sua dor, continuando a dialogar com eles e a mostrar-lhes o nosso amor.
                                                                                                   Aida Nuno, em Na curva do caminho 



Comentários

  1. Geralmente quando falece um filho, a mãe principalmente, fica muito tempo focada naquele filho que partiu a dor é tanta que esquece que tem outros filhos e familiares, que estão sofrendo tanto quanto ela, ninguém quer uma mãe, esposa e avó pela metade, todos querem pessoas inteiras, ao seu redor e não pela metade.Quando faleceu a Ligia, filha da Eduly, ela falou para uma pessoa que disse e agora o que você fai fazer a resposta foi a seguinte tenho mais 6 filhos que precisam de uma mãe inteira e não pela metade.
    A morte de um ente querido leva uma parte da nossa vida mas não a nossa vida pois a vida continua... cada dia que passa é um dia a menos para o nosso encontro.
    Zelinda De Bona.

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  2. Considero este artigo um alerta para os pais enlutados. Sem perceber eles podem prejudicar os filhos que estão vivos!
    O sofrimento deve ser terrível, daí a necessidade de conhecer e frequentar os
    "Amigos solidários do luto".
    Abraços
    Ligia

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