Com o Tempo Melhora?



"Muita gente, depois de perder alguém querido, escuta, dos outros, frases do tipo:
-          O tempo cura todas as feridas.
-          Com o tempo a dor diminui.
-          O tempo faz a gente esquecer.
Eu também escutei. E, mesmo hoje, já passados nove anos que meu filho morreu, eu não sei se essas frases são verdadeiras.
Certa vez, observando pessoas que, por algum motivo, perderam uma das pernas (ou mesmo as duas), percebi como elas faziam com as muletas.
No começo as muletas machucam, incomodam, ferem as mãos, as axilas. É ruim andar com elas, desequilibram. Elas obrigam quem as usa a inventar um novo passo, um novo jeito de caminhar, dão um ritmo diferente.
As muletas nunca lhes devolverão a perna perdida, mas aos poucos as pessoas vão se adaptar a elas. As muletas vão se tornando parte das pessoas e possibilitam que elas continuem a se locomover e a viver com dignidade.
Com certeza seria muito melhor ter as pernas, mas é preferível usar as muletas do que ficar parado.
Eu penso que, quando a gente perde alguém querido, a vida nos possibilita usar muletas.
Nem de longe essas muletas nos trarão de volta o que perdemos, mas nos possibilitarão continuar nossa caminhada. Certamente serão passos diferentes, outro tipo de equilíbrio e de valorização dos acontecimentos cotidianos, mas daremos conta de seguir em frente, com firmeza e segurança.
Penso que nem mil anos nos fariam esquecer aqueles que amamos muito, ou farão desaparecer a dor e a saudade que sentimos, mas a dor e a saudade poderão se tornar nossas muletas.
No início será mais difícil. Seremos muito machucados por elas, mas com o tempo nos adaptaremos a esse novo modo de continuar a vida e, por mais absurdo que possa parecer, ainda teremos a possibilidade de sermos felizes".


maria marta pinto ramos

Comentários

  1. Nossa esse texto fala tudo...acabo de perder minha Mãe com apenas 58 anos,recén aposentada e com uma alegria enorme de viver ...a dor ainda é enorme ,mas Deus tem me dado conforto,pq foi feito a vontade Dele.
    Mas saber q nunca mais vou vê-la nem ouvi-la doi muito !

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  2. Queridos amigos
    Eu vou e volto nas fases do luto (refiro-me ao post anterior). A da superação não cheguei nem perto, e sei que não vou chegar. Talvez aprenda a "administrar a dor" de outra forma, daqui a anos. Perder um filho ou filha é perder metade de nós (às vezes eu acredito que me perdi inteira, que mergulhei num buraco, num vazio, e não sei onde estou. Sinto que tateio às cegas este mundo e "os outros" que não tem essa dor da perda das perdas - parece que já me considero fora do mundo da maioria) estão em uma outra dimensão que não a minha. Eles veem a vida de outro jeito. Eles têm problemas e se preocupam com coisas materiais, enquanto para nós o material perdeu o sentido, porque sem nossos filhos por que levantar todas as manhãs para receber o salário? Eu sinto isso! E contiuno fazendo, mas sem encontrar um sentido. E minha filha, para quem eu iria deixar o que conseguisse com este trabalho? "Ela está com Jesus e isso para ela nada representa", muitos responderão, mas eu, mesmo pedindo ajuda a Jesus e sabendo que ela está bem cuidada, permaneço aqui, e tenho que continuar e buscar uma razão. "Doe, ajude", responderão também. Os outros têm sempre a resposta quando não é com eles. Não sabem que a melhor ajuda segundo o Evangelho é a presença, o carinho, a palavra de conforto com o que edstá no hospital, ou sofrendo? Claro que é importante para aquele que sente frio o casaco, a fome o alimento, mas nunca me neguei a ajudar assim. Por isso, neste sentido, minha vida não mudou. E você, que tem todos seus filhos, que não perdeu nenhum, também não teria de ajudar mais? Talvez até mais ainda, em agradecimento pela sua graça, em vez de nos dizer o que devemos fazer? Parece que a coisa mais terrível e horrenda do mundo nos faz mais atentos aos semelhantes que vocês, felizes. A todos eles. Parece que nossos filhos vem como Anjos nos lembrar que o sacrifício deles, como o de Jesus, não foi em vão. Que eles continuam, e que por isso, como Maria, temos que continuar, Ela quis subir aos céus com Ele,não pôde, nós também não podemos. E o que ela fez com o que aprendeu depois de todo o sofrimento, de ver seu filho chagado e sangrando, humilhado, de tanto gritar, como todas nós, ao vê-Lo fechar os olhos e os lábios sem respondê-la; levá-lo ao sepulcro...continuou até que fosse sua hora, evangelizando, cuidando, era simples, o que tinha de mais valia era a palavra e o conforto, a evangelização. Dizem-nos:"Adote!", ora, Maria não adotou um, mas todos, é Mãe de todos, a quem batesse à sua porta ela tinha uma palavra, quem lhe pedisse ela tinha um consolo.
    Por isso, que não nos digam o que fazer, Nossa Senhora nos guia, nossos filhos passaram pela experiência maior que é a de Cristo em nós, vocês são felizes por tê-los à vista, não negamos que queríamos profundamente o mesmo, mas só de lembrar que somos como a Mãe das Mães, e nossos filhos foram semelhantes à Jesus, conseguimos enlevar nosso coração.
    Comecei esta postagem mais queixosa, fui desenvolvendo, e assim terminou, estou me sentindo melhor.
    Beijos a todos.

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  3. Querida Vanessa,
    a perda de um ente querido, principalmente nossa referência: a mãe, nos torna órfãos nessa vida, ficamos perdidos... mas se agarre a algo que nunca poderão tirar de você, que são todos os anos compartilhados juntas e todas as memórias que tornam a sua mãe tão especial...
    abraço carinhoso

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  4. Querida Patricia,
    fiquei feliz com o seu desabafo aqui, principalmente com o desfecho do comentário. Você mesma encontrou a resposta.
    obrigada por compartilhar esse sentimento conosco.
    abraço forte

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  5. Minha querida Patricia.
    Que depoimento lindo apesar da tua imensa dor vc ainda encontra forças para ajudar essas pessoas, tenho certeza, Carol te iluminana em todos os momentos da tua vida.
    Vc para mim é minha filhota do Coração... Acho que a Sonia nào fica com ciume...
    Bjs te amo Zelinda.

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  6. Patrícia tomei a liberdade e publiquei seu texto no mural do meu face, não perdi um filho, tenho certeza que a minha dor de longe não se compara a sua, mas vc conseguiu expressar a dor que tenho sentido desde que meu único e grande amor foi embora, meu pai, obrigada pelas suas palavras e como ele diria: fiz das suas as minhas.

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