Voluntariado na terceira idade
Voluntariado contra a solidão
Além de novas companhias, estudo revela que ajuda ao próximo afasta idosos da depressão. Trabalho voluntário é indicado pela OMS como política pública
Quando o corpo já passou dos 60 e a disposição continua a mesma de um jovem, uma alternativa encontrada por centenas de idosos paranaenses para descarregar as energias tem sido participar de trabalhos voluntários promovidos por associações beneficentes ou organizações não governamentais. Além da distração, foi comprovado que o envolvimento com atividades desse tipo reduz quadros de depressão e solidão.
Eulécia Martins de Rezende tem 71 anos e se considera elétrica demais para ficar parada. Professora aposentada, ela exerce o voluntariado há quatro décadas em instituições espíritas de Ponta Grossa. Já foi responsável pela Cidade dos Meninos, que abriga garotos de rua, e distribuiu cestas básicas e cobertores aos pobres.
Hoje, Eulécia ajuda na confecção de peças artesanais na Casa Irmã Scheila e as vende para reunir fundos para a entidade, que distribui sopas e faz serviços assistenciais a pessoas carentes. Ela não reclama de cansaço. “Eu tenho pressão alta e problemas na tireoide, mas está sob controle, graças a Deus, estou muito bem”, completa.
Bem-estar semelhante ao vivido por Eulécia foi comprovado por uma pesquisa desenvolvida na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no Rio Grande do Sul, entre 2006 e 2007. O professor de Enfermagem Luccas Melo de Souza entrevistou idosos voluntários e descobriu que a maioria deles se livrou da depressão e da solidão ajudando a terceiros. “Levantamos que os idosos que faziam trabalho voluntário tinham níveis mais altos de qualidade de vida do que aqueles que não faziam”, aponta. A Organização Mundial da Saúde (OMS), acrescenta Souza, recomenda que programas de voluntariado na terceira idade sejam desenvolvidos como uma política pública.
Seriedade
A assistente social aposentada Ruth Noernemberg, 70 anos, de Ponta Grossa, lembra que o trabalho à frente de uma instituição não é passatempo. “Quando você pega um trabalho voluntário precisa acreditar que vale a pena e levar a sério”, diz. Por 27 anos, ela coordenou com o marido a seccional da Escola de Pais do Brasil no município, uma entidade que auxilia famílias na educação dos filhos. Paralelamente, por alguns anos, coordenou uma comissão de ética na cidade e atuou nas pastorais da diocese. Agora, ela está um pouco afastada, mas faz planos de montar uma entidade assistencial com a igreja católica em Guaratuba, no litoral, onde passa boa parte do ano. “Não dá para ficar de braços cruzados”, brinca.
Aos 79 anos, a boliviana Alzira Maldonado Flores tem alunas na faixa dos 60 anos nas aulas de pintura que desenvolve no asilo São Vicente de Paulo, em Curitiba. Uma vez por semana, há pouco mais de um ano, ela cumpre a tarefa de ensinar as senhoras do asilo a pintar as telas que são vendidas em uma feira interna. Muitas vezes, o trajeto de casa ao asilo é feito a pé. “Dá meia hora de caminhada, é muito bom caminhar por Curitiba”, justifica.
Há cerca de cinco anos, uma cirurgia para retirada de um tumor na tireóide a afastou de um trabalho voluntário no setor de hemodiálise da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. “O médico me recomendou que eu continuasse o trabalho voluntário, mas em outro local, por causa da baixa de imunidade no hospital”, disse, lembrando que os pacientes chamavam-na de “enfermeira importada” por causa do sotaque castelhano.
Recuperação
Grupo auxilia pessoas enlutadas
A morte de um neto de 14 anos num acidente de carro impulsionou Zelinda de Bona, 74 anos, a fazer um trabalho voluntário. Ela coordena, há oito anos, um grupo de apoio a pessoas enlutadas que se reúne todas as segundas-feiras na sala 118 do câmpus Santos Andrade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
“Todas as segundas-feiras eu vou à faculdade com a esperança de que aquela sala esteja vazia, mas é muito grande o número de pessoas que precisam de ajuda porque perderam alguém querido”, diz a aposentada, lembrando que a cada reunião, cerca de 15 pessoas se encontram para ouvir uma palavra de consolo.
O grupo foi criado há 13 anos por uma amiga de Zelinda que havia perdido um filho para o câncer. “Meu neto, que era o brilho da nossa casa, morreu e eu pude ver o sofrimento dos pais. Quando alguém querido se vai, a nossa vida não fica mais igual, mas a pessoa tem que reagir. Eu costumo dizer que o grupo não é uma solução, mas é um facilitador”, comenta Zelinda, que, para aliviar as tensões, faz todo final do ano cestas de doces com os integrantes do grupo para entregar aos catadores de materiais recicláveis de Curitiba.
Aliado
O tempo livre, segundo ela, é um grande aliado. “Eu sou uma pessoa comum, que gosta muito de fazer doces e geleias, então encontrei no trabalho voluntário uma forma de aproveitar bem o tempo que Deus me deu e ajudar as pessoas”, ressalta. As histórias tristes a abalavam quando entrou no grupo de apoio, mas agora Zelinda diz que aprendeu a lidar com o sentimento. “Eu chego em casa e ponho uma música relaxante”, acrescenta. Ela acredita que todas as pessoas têm um potencial e basta “abrir a caixinha”, segundo ela, para descobrir a melhor forma de estender a mão a alguém que precisa.
Voluntárias têm histórias em comum
Eulécia Martins de Rezende, 71 anos, Alzira Maldonado Flores, 79 anos, e Zelinda de Bona, 74 anos, têm outras coisas em comum além do trabalho voluntário. As três moram sozinhas e apostam que o voluntariado afasta a solidão.
O marido de Eulécia faleceu há um ano e três meses e os quatro filhos moram em outras cidades. “Não dá tempo de ter solidão, às vezes dá saudade dos filhos e dos netos”, explica. A boliviana Alzira, que veio para o Brasil há 28 anos, também é viúva e tem quatro filhos. “Fiz muitas amizades aqui, não me sinto sozinha”, reforça.
Zelinda tem um companheiro que mora no litoral e a visita aos finais de semana, mas a maior parte do tempo é preenchida pelos telefonemas dos filhos, netos e dos amigos. “É isso que as pessoas querem. Ter alguém para ouvi-las.”
Perfil
Segundo o professor de Enfer magem Luccas Melo de Souza, que pesquisou o trabalho voluntário na terceira idade, boa parte dos idosos que estão nesse segmento tem esse perfil. São mulheres viúvas, normalmente ligadas a alguma religião, que ofertam seu tempo para ajudar outras pessoas. “Vemos que muitos estavam quase em depressão antes de iniciar um trabalho voluntário”, completa.
fonte: Gazeta do povo de 25.08.11 no caderno Vida e Cidadania
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Zelinda querida , como eu gostaria de morar mais perto de Curitiba...
ResponderExcluirDeus te abençoe sempre, um beijo.
Acho lindo o trabalho voluntário, participei de um há pouco tempo, preparávamos um café da manhã para pessoas que faziam quimioterapia, mas por motivo de força maior o hospital não pôde mais ceder o espaço e o trabalho não pôde continuar, o que foi uma pena. Mas pretendo fazer outros trabalhos voluntários. Fui na intenção de ajudar mas quem acabou sendo ajudada fui eu, é muito gratificante.
ResponderExcluirParabéns, Zelinda, por esse trabalho lindo.
Beijos!
Zelinda, você é uma pessoa especial, maravilhosa.
ResponderExcluirTe amo. Seu neto com certeza está muito feliz com você. O encontro de vocês um dia será muito, muito lindo.
Beijos!
Amigas, eu gostaria de colocar o link aqui de uma postagem do meu blog, sobre São Ftancisco de Assis e Santa Clara, já havia feito essa postagem ano passado, mas eu acho tão bonita! Eu fico fascinada, porque a Santa Clara da cena parece com Carol e São Francisco tem a personalidade jovem, impetuosa, cheia de amor ao próximo, como de minha filha:
ResponderExcluirhttp://queroumcaminho.blogspot.com/2010/10/oracao-de-sao-francisco-prayer-st.html
Para ouvir melhor, é só pausar a música no aparelhinho virtual embaixo do livrinho de visitas verde e clicar no play do vídeo. A oração de São Francisco está linda e cantada.
Bjos e paz
Patricia
Amiga...IRMÃ...MÃE e ORIENTADORA ZeLINDA!!!
ResponderExcluirFico feliz por tua entrevista e agradeço a DUES tds os dias por vc existir e SER fundamental na vidas de tantas pessoas,inclusive na minha.Que bom ter você.
Te amo cada dia mais!
Bj no teu lindo coração que cuida de tantos corações partidos que chegam até vc.
Márcia Torres
Obs: Me orgulho por ter te conhecido um dia!
Zelinda, você é muito especial! me emociono com td que vem de você... Um grande beijo, e que Deus te dê muita saúde para continuar nos "aguentando" por muuuuuuuuuintos anos!
ResponderExcluirHilda.
Zelinda:
ResponderExcluirQuantas entrevistas tuas a respeito do grupo que você coordena eu venho acompanhando. E não sei o que mais admirar: se a tua determinação ao levar avante um trabalho tão espinhoso, ou se o teu desassombro ao enfrentar os microfones da imprensa escrita e falada, tendo, para divulgá-lo, a oferecer tão somente a tua simplicidade de modesta dona de casa, e a tua vivência com a dor indescritível de quem, pela morte física, se separa de um ente amado.
Tenho certeza de que os mentores espirituais estão monitorando o trabalho missionário que você realiza, amparando-a para que ele prossiga, enxugando lágrimas e oferecendo o ombro amigo.
Te amo,bjs.
Nazir