QUANDO MORRE UM PARCEIRO, VIVER O LUTO É A CHAVE QUE VENCE A DOR



É difícil lidar com a morte de um parceiro. Sente-se dor e tristeza profundas, sentimentos de impotência, abandono, incredulidade.
Sigmund Freud, notável pesquisador do comportamento humano, definiu o luto como uma reação `a perda de um objeto de amor, em que além do sentimento de tristeza há um afastamento temporário das atividades.
Ocorre porque o enlutado deixa de retirar energia do mundo exterior – prevalece um desinteresse geral pelos acontecimentos.
No caso da vida a dois, a dor do luto surge de um constatar permanente de que o parceiro falecido não responde mais a nenhum chamado, está definitivamente ausente. Embora o sofrimento seja intenso, é preciso enfrentar e viver o luto sem dele fugir. Com aceitação e elaboração é Possível superar a dor, retornar `as atividades cotidianas e até mesmo vivenciar um novo amor – sem sentimento de culpa e sem buscar no parceiro novo o anterior que partiu.
A elaboração que envolve aceitação,  é o último de quatro estágios psicológicos vivenciados por quem sofreu uma perda; o primeiro é a negação , seguida de raiva e interiorização. Na negação, o indivíduo recusa-se a acreditar no fato ou aceitá-lo.
Em alguns casos, mantém intactos os pertences do falecido. Na raiva existe um questionamento revoltoso, uma sensação de injustiça: “Por que logo comigo?”, insurge-se. Embora sejam comuns o investimento maciço em lembranças do companheiro que se foi e até fantasias que o colocam presente, na terceira fase – a interiorização – a pessoa começa a tomar consciência: não existe caminho de volta. Constata que a própria vida continua e é necessário tocá-la adiante. A perda começa a ser aceita.
Inicia-se nessa fase o processo de elaboração , uma atitude subjetiva que trará como resultado a substituição da desesperança e da tristeza pelo amadurecimento.
Elaborar é termo que designa o trabalho realizado pelo aparelho psíquico com o fim de ordenar os numerosos estímulos que chegam até ele. É mergulhar para dentro de si mesmo, por meio de reflexões e de conexões associativas. Do processo faz parte integrante permitir-se lembrar do parceiro falecido, falar sobre ele e do que ambos vivenciaram, refletir acerca da dor de tê-lo perdido, avaliar o que a relação tinha de bom e de ruim, e trocar idéias com outras pessoas. Em resumo, escutar, deixar-se falar sobre o ocorrido, pensar. Durante a elaboração, quanto mais se toca na ferida, com maior rapidez ela cicatrizará. Para que seja menos sofrido vivenciá-la, aconselha-se o apoio de terapeutas, além  da companhia de amigos e familiares.
`A medida que elabora, a pessoa sai do estado de luto e psiquicamente volta a investir nas atividades cotidianas, deixando de considerá-las torturantes. Ressalta-se, aqui, que o tempo necessário para elaboração pode ser longo – meses ou anos.
Subordina-se `a capacidade que o parceiro tem de enfrentar o ocorrido e também `a profundidade do relacionamento com o falecido.
Durante a fase de elaboração, é importante não permanecer emocionalmente passivo diante da ampulheta, sem agir para superar a situação. Por um tempo é natural não querer relacionar-se afetivamente, dedicando-se apenas a trabalho e estudo para converter a dor em produtividade. Entretanto, aos poucos a saudade substitui a tristeza e as recordações antes dolorosas convertem-se em boas lembranças a guardar. Novos conceitos de vida surgem e as metas são alteradas: apesar de ser uma situação muito difícil, nem tudo está perdido.
Após  a elaboração, interessar-se por outro parceiro torna-se possível. A pessoa enlutada amadureceu e será capaz de evitar erros passados, procurando aproveitar a relação mais profundamente. O novo parceiro poderá ser percebido como um aliado, um confidente e alguém que trará um novo tempero `a vida: outra vez a possibilidade de ser feliz a dois.

Luciana Diniz, foi psicóloga anos atrás. Hoje é designer de interiores, designer gráfico, poeta e sócia do escritório Livro-objeto Atelier e Design. Contato:livro-objeto@livro-objeto.com.br

Comentários

  1. Muito interessante esse texto, creio que seja muito difícil também perder um companheiro, ainda mais se compartilharam a vida por muitos anos.
    Beijos, e fique com Deus!

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  2. Boa tarde. Esta é asegunda mensagem que escrevo, não sei se a primeira chegou... Escrevi este texto muito anos atrás, quando ainda atuava na clínica de psicologia. Hoje sou designer de interiores e atuo efusivamente nesta área. Fico feliz que o texto tenha ajudado as pessoas.Ele foi publicado na Revista Caras, Coluna Amor, revista para a qual escrevi textos por 6 anos. Gostaria que os dizeres ao final fossem alterados para ""Luciana Diniz foi psicóloga anos atrás. Hoje é dedigner de interiores, designer gráfico, poeta e sócia do escritório Livro-objeto Atelier e Design.Contato:livro-objeto@livro-objeto.com.br" Caso não seja possível fazer essa alteração, peço que retire o texto do ar. Obrigado e parabéns pelo blog! Luciana Diniz

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